Como me lembro sempre. Lembrei-me do momento que a seguir ao jantar eu te perguntava se querias café e tu me dizias que sim. O gesto de pôr a cápsula na máquina, o pôr o açúcar e mexer o café, fez me vir à memória o barulho dos teus passos a andar desde a sala até à cozinha para beberes o teu café ainda a escaldar.

Lembrei me das tuas risadas, do teu andar a correr porque sentias desiquilíbrio por causa do Parkinson. E no fim de contas não foi o maldito Parkinson que te levou para longe de nós.

Sinto a tua falta pai. 

Sempre foram os mais presentes, ao contrário dos paternos. Não foi por mal que isto aconteceu, acontece que a minha avó paterna morreu quando eu tinha 2 anos e o meu avô paterno morreu quando eu tinha 9 ou 10 anos. Sendo assim ligamo-nos mais aos avos maternos. A minha avó materna chamava-se Alice e o meu avô Antonio. Falo sempre no passado porque eu ja não os tenho comigo. Ambos morreram aos 94 anos, o avô morreu tinha eu 22 anos e foi um choque quando recebi a notícia no trabalho. Mesmo sendo velhinhos , nós pedimos sempre que eles vivam muitos anos. Quando chegou a hora da minha avó partir(ainda hoje me vem as lágrimas aos olhos) foi dois meses depois do Boy nascer. Tinhamos ido ao Alentejo mostrar o Boy à minha avó eu e o pai dele. A minha avó ficou tão contente de ver o bis-neto ,via se na cara dela. Isto passou-se num sábado e de madrugada ela deu entrada no hospital. Foi num ápice,um mês depois partiu. Hoje a minha mãe andava a arrumar o armário e encontrou isto, sao toalhas do bidé que eu bordei a ponto cruz para a minha avó.

O Boy pediu desculpa ao pai dele, por tê-lo feito faltar ao trabalho. A minha mãe ainda anda mal, sempre a agarrar-se aos netos e a dizer que estava com medo dde não os ver crescer. O meu pai so fala do arranjo do esquentador. O falecido depois de cinco anos(fazemos dia 15 , cinco anos que nos separamos) que ficou com medo de nos perder. Eu,eu volta volta e meia as lágrimas correm-me pela cara a baixo. Pois tenho um pavor de morrer.